RESENHA
CRÍTICA DO FILME "CIDADE BAIXA"
por Vinicius Vieira -
vvinicius@hotmail.com
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CIDADE BAIXA (VÍDEO FILMES)
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A mais crua e visceral realidade
CRÍTICA - CIDADE BAIXA:
Se você parar para pensar, a beleza física com
certeza não é um dos atributos da vida cotidiana, a
não ser que você more em um folhetim qualquer da
Rede Globo, ninguém acorda bonito, ninguém come com
beleza, um beijo de verdade é feio, com língua para
todos os lados, sem falar em sexo, esse então nem
conta, suado, desajeitado etc., é claro que todo
mundo ama fazer tudo isso que eu citei, mas ver as
pessoas fazendo é outra coisa.
Em sua primeira experiência como ficção na cadeira
de diretor, Sergio Machado, resolve mostrar para
todos um mundo real, com pessoas reais,
relacionamentos reais em um lugar real. “Cidade
Baixa”, nome dado a parte portuária e mais pobre de
Salvador, é isso, uma história de amor que deve
acontecer aos montes não só pelo Brasil, como pelo
mundo, e talvez isso seja o que dá mais impacto a
ela.
Tudo é até bem simples, uma moça do interior resolve
ir para salvador ganhar a vida como “dançarina de
boate” até encontrar um gringo que a tirasse daquela
vida, pega uma corona no barco de dois amigos, o
final todo mundo já sabe, os dois se apaixonam por
ela e amizade de anos é posta em prova.
O interessante da história é o desenvolvimento desse
triangulo amoroso, com todos seus encalços, suas
reviravoltas, tudo permeado por um mundo que pouca
gente conhece, o da prostituição, da criminalidade,
um que margeia esse bonito e limpo das capitais,
onde tudo é sujo, feio, as vezes sem escrúpulos,
onde o mocinho bonzinho não só não vence, como não
existe.
Escrito pelo próprio diretor em conjunto com Karim
Ainouz, repetindo a parceria de “Abril Despedaçado”
e “Madame Satã”, esse último também dirigido por
Ainouz, o roteiro é um exemplo de competência,
extremamente bem amarrado, com um desenvolvimento
impressionante. O modo como a situação do trio de
personagens vai entrando nesse caminho sem volta é
de gelar os ossos de tão visceral.
E visceral é com certeza a palavra mais apropriada
para descrever a direção do filme, tudo é jogado na
sua cara, fazendo com que as situações incomodem bem
mais, do mesmo jeito que ele consegue com que a
“cidade baixa” transborde pela tela, você enxerga
ela, escuta ela, até imagina seu cheiro, sem em
nenhum momento parecer algo forçado. Mas talvez a
decisão mais acertada do diretor tenha sido apoiar
seu filme nos personagens, e principalmente em seu
trio de protagonistas.
Quando o assunto é o elenco antes de qualquer coisa
é necessário deixar claro que com certeza a dupla de
protagonistas, Lazaro Ramos e Wagner Moura, são com
certeza dois dos melhores, senão os melhores, atores
de sua geração, e nessa sexta parceria de sete nos
cinemas (a próxima é no longa “A Máquina”), mostram
mais uma vez que essa minha afirmação está bem longe
de estar errada. Do mesmo modo que a protagonista
Alice Braga, de 22 anos e que carrega o sobrenome da
tia Sônia, ganha seu primeiro papel como
protagonista e se mostra desde já como um promessa.
Em cena, os três dão uma sensação de intimidade
incrível, com uma química perfeita, sem em nenhum
momento perder a cena, tudo de um modo natural,
mostrando que realmente entraram nos personagens com
tudo, além de conseguirem captar todas nuances não
só do roteiro como da direção, é como se a câmera
procurasse por eles em cena, do close mais fechado e
caustrofóbico ao plano mais aberto.
Produzido por Walter Salles e sua produtora
VideoFilmes, o longa de Sergio Machado é um daqueles
exemplos de filmes que ganham o exterior antes Dado
por muitos da imprensa internacional, como o grande
achado do último Festival de Cannes, chegando a
ganhar o Prêmio da Juventude, escolhido pelo
público, por aqui recebeu uma distribuição fora do
circuito comercial e agora, chegando nas locadoras
mostra a oportunidade perfeita, e quase obrigatória,
para todo mundo ver o que para mim foi o melhor
filme produzido no Brasil nesse ano que passou.
Gênero: Drama
Tempo: 110 min.
Lançamento: 2005
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Vieira - Jornalista -
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