RESENHA CRÍTICA "CENAS DE UM CASAMENTO"
por Shirlei Ximenes -
Jornalista e Crítica de Cinema
e-mail:
sximenes@gmail.com
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CENAS DE UM CASAMENTO
- (Foto Divulgação)
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Mão de Mestre
CRÍTICA: CENAS DE UM CASAMENTO - Difícil
não se curvar à mestria do diretor sueco Ingmar
Bergman, um dos principais nomes da história do
cinema mundial. Até para aqueles que consideram a
temática bergmaniana pessimista e ultrapassada,
sempre é possível destacar pelo menos “uma
obra-prima” na extensa filmografia do cineasta -
também dramaturgo e escritor. Há três anos Bergman
concluiu “Saraband”, filme cujo enredo retoma, sem
ser uma continuação, os personagens principais de
“Cenas de Um Casamento” (1974). Segundo o artista,
aquele foi o seu derradeiro feito cinematográfico -
ameaça recorrente desde 1983, quando disse o mesmo
sobre o sublime “Fanny e Alexander”. Resta aos fãs e
cinéfilos torcerem para que o ponto final não seja
definitivo, haja vista a lucidez intelectual do
realizador, hoje com 88 anos. Entretanto, caso a
aposentadoria realmente ocorra, ainda assim será
possível buscar consolo em títulos fundamentais
relançados no último semestre, entre eles o próprio
“Cenas de Um Casamento”, verdadeiro conto de horror
sobre a crise conjugal.
Inicialmente produzida para a TV sueca e lançada nos
cinemas numa versão editada de 155 minutos, a
minissérie “Cenas de Um Casamento” já está
disponível no Brasil em DVD com sua duração original
(299 minutos). São seis episódios que retratam o
casal Marianne (Liv Ullmann) e Johan (Erland
Josephson) a princípio em momentos de aparente
felicidade que logo evoluem para o inevitável
declínio da relação. Já na seqüência inicial, uma
repórter entrevista os protagonistas num simbólico
gesto de idealização da vida conjugal dos mesmos.
Tanto o professor Johan quanto sua esposa, uma
advogada de causas familiares, parecem acreditar no
conceito de segurança que construíram até ali, após
anos de convivência. As aparências se mantêm com
pequenos - porém sucessivos - desentendimentos. A
trama explode de vez no terceiro episódio, quando
Johan faz uma revelação que desnorteia Marianne por
completo.
Bergman disseca o doloroso processo de separação de
seu casal “ideal” de maneira seca e sutil. O
resultado incomoda, mas é absurdamente belo. Em
diálogos agressivos, os personagens deixam aflorar
os mais ocultos ressentimentos e amarguras; tudo em
plena sintonia com o cinema de natureza psicológica
do diretor, sempre preocupado em investigar as
facetas da condição humana. Além disso, “Cenas de Um
Casamento” não recorre a simbolismos comuns em
outros filmes do sueco como “O Sétimo Selo” e “Persona”.
O aspecto teatral e minimalista da obra – que
privilegia expressões e movimentos – deixa evidente
o cuidado de Bergman com os atores, outra marca
fundamental de seu cinema. Liv Ullmann e Erland
Josephson tomam conta da tela em interpretações
memoráveis, eles que participaram de vários filmes
do cineasta. Essa intimidade entre os três é mais
que perceptível na fita.
Não há música e o efeito de “Cenas de Um Casamento”
é quase documental, com constantes close-ups dos
personagens. O espectador percebe cada gesto, cada
sorriso forçado ou silêncio triste tanto de Ullmann
quanto Josephson, como se estivesse praticamente ao
lado deles. Entre tantos pontos altos das cinco
horas do DVD (jornada nada desprezível pela
qualidade da minissérie), vale destacar, logo no
primeiro episódio, as passagens de um jantar que
Marianne e Johan oferecem a um casal amigo formado
por Peter (Jan Malmsjö) e Katarina (Bibi Andersson).
Nesse momento, após algumas doses de uísque e
dezenas de insultos mútuos, os dois últimos anunciam
que estão prestes a se separar. O cineasta constrói
a situação exatamente como um mago que prevê o
destino e o rompimento dos protagonistas.
Ingmar Bergman faz do cinema uma linguagem que fala
diretamente “da alma para a alma”, como o mesmo faz
questão de frisar. Apesar de não ser um cineasta
infalível, a maioria das obras assinadas por ele
beira o sublime por conta de sua sensibilidade e
precisão. É um cinema demasiadamente humano, que
carrega questionamentos acerca de temas como a
existência, o amor, as relações familiares, Deus, a
morte, entre tantos mais. Em “O Cinema Segundo
Bergman”, livro que reúne uma série de entrevistas
suas, o diretor explica: “O único gesto que
realmente vale a pena é o que estabelece contato, o
que comunica, o que sacode a passividade e a
indiferença das pessoas”. Sem dúvida, é um autor
indispensável.
Título Original: Scener Ur Ett Äktenskap
Gênero: Drama
Duração: 299 min.
Ano: 1974 (Suécia)
Direção: Ingmar Bergman
Roteiro: Ingmar Bergman
Distribuição: Versátil Home Vídeo
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Crítica: Shirlei
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