RESENHA CRÍTICA DO FILME "CACHÉ"
por Shirlei Ximenes -
Jornalista e Crítica de Cinema
e-mail:
sximenes@gmail.com
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CACHÉ
- (Sony Pictures Classics / California Filmes)
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Um cinema atual e
necessário
CRÍTICA: CACHÉ - Um filme sobre a imagem e
seu efeito no homem contemporâneo. A princípio, esta
parece uma definição simplista, mas quando o assunto
é o cinema de Michael Haneke, nada costuma ser tão
claro assim. “Caché” (2005), o novo longa-metragem
do diretor austríaco, deixa latente o poder
desestruturador da vigilância, porém vai mais longe
ao questionar a natureza e o sentido das mídias
audiovisuais, assim como o processo de criação
delas. E como um bom artista que utiliza seu ofício
para confrontar a realidade, Haneke não perde a
oportunidade de estampar as relações ambíguas entres
as classes socias, sempre partindo do ponto de vista
do passado e da culpa.
Tal como em “Código Desconhecido”, realizado pelo
cineasta em 2000, “Caché” também começa de maneira
indecifrável. Entretanto, em vez da cena com os
jovens alunos de uma escola para surdos-mudos,
mostra o plano fixo de uma fachada residencial de
classe média. Minutos depois, a imagem é rebobinada
e acompanhamos o visual característico dessa ação. A
perda de referências passa a ser instantânea, pois
existe uma câmera misteriosa que recorta uma
realidade qualquer sem ser a do filme, e este
recorte não é nem um pouco inofensivo. Não sabemos a
origem dele, muito menos o seu destino. O estranho é
que nada, inicialmente, distingue essa imagem solta
da outra utilizada para contar a história em si. O
valor de todas as imagens, então, já se torna
discutível.
Estamos na França. Georges Laurent (Daniel Auteuil)
é apresentador de um programa de televisão sobre
literatura, enquanto sua esposa Anne (Juliette
Binoche) trabalha numa editora. O quadro familiar se
completa com o filho adolescente, Pierrot (Lester
Makedonsky). O casal é culto e possui amigos
interessantes que visitam a casa com freqüência.
Essa vida normal e tranqüila é abalada justamente
pelo recebimento contínuo de fitas de vídeo. No
início, elas parecem apenas vigiar a entrada da
residência dos Laurent, mas logo chegam acompanhadas
de embrulhos desenhados que ressaltam o elemento
sangue. Esse detalhe aterroriza Anne e o marido.
Novas fitas aparecem. Georges reconhece lugares que
dizem respeito à sua infância. Pronto. Para ele, as
imagens estão relacionadas com um passado de egoísmo
e discriminação que sempre preferiu esquecer. A
lembrança de Majid (Maurice Bénichou) - um órfão
argelino - se torna uma constante. Quando criança, o
protagonista armou para que este não crescesse ao
seu lado. Seu plano deu certo e Majid foi parar num
orfanato. Mesmo nesse período, Georges já conhecia
muito bem as diferenças sociais; o outro não poderia
ter as mesmas oportunidades.
Nesse momento, Haneke, como um bom diretor radicado
na França, coloca o dedo na história política do
país e expõe o eterno recalque causado pela
independência da Argélia. Por falar em história,
voltemos a “Código Desconhecido”, com uma Paris
permeada por racismo contra imigrantes africanos e
do Leste Europeu. Uma seqüência de “Caché” não deixa
nada a dever ao filme anterior. Georges sai da
emissora onde trabalha e atravessa distraidamente a
rua, sendo quase vítima de um ciclista em alta
velocidade. Furioso, ele vai para cima do rapaz.
Este pede desculpas, mas logo também se exalta
quando percebe a explosão desnecessária do
protagonista. A situação seria normal e
compreensível se não houvesse um pequeno detalhe: o
ciclista também era um imigrante africano. Barreiras
inconscientes.
Outro aspecto interessante em “Caché” é a família
como pilar dos conflitos. O terror causado pelas
fitas traz à tona as relações pouco transparentes
entre o casal Georges e Anne - Auteuil e Binoche em
atuações brilhantes - e entre ambos e o filho
Pierrot. O retrato da atual classe média francesa
convence, mas determinadas crises também valem para
o mundo todo. Todo o enredo é bem articulado pelo
cineasta através de cortes bruscos, planos longos e
travellings audaciosos. As imagens são captadas em
HD tanto no filme como no registro das fitas de
vídeo, daí o estranhamento inicial. Não há trilha,
nem espaço para fuga porque todos os momentos exigem
demasiada atenção.
De volta ao enredo: Georges vai atrás de Majid para
exigir explicações. Mas será este o responsável pela
produção e envio das fitas? Ou será o filho do
argelino, para vingar a desgraça do pai? Ninguém
está fora de suspeita, nem mesmo Georges e sua
família. De qualquer forma, Haneke não tem interesse
em oferecer respostas - uma marca pessoal do diretor
que começou a carreira na TV. O importante em
“Caché” não é a autoria e sim a conseqüência das
imagens. Se restam lacunas, cabe a nós completá-las.
Palavras do cineasta em entrevista à “indieWIRE”: “O
público tem que fazer suas próprias cenas, e
qualquer coisa que eu mostre significa diminuir a
fantasia do espectador”. Mais direto impossível.
Título Original: Caché (Escondido ou oculto
em francês)
Gênero: Drama
Duração: 117 min
Ano: 2005 (França/Áustria/Alemanha/Itália)
Direção: Michael Haneke
Roteiro: Michael Haneke
Distribuição: Sony Pictures Classics /
California Filmes
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Cena do
Filme CACHÉ (Foto Divulgação)
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Crítica: Shirlei
Ximenes - Jornalista e Crítica de Cinema -
sximenes@gmail.com
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