RESENHA CRÍTICA DO FILME
"A
PARTIDA"
por Rodolfo Lima -
Jornalista, ator e crítico de cinema -
e-mail:
dicaspravaler@yahoo.com.br
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A PARTIDA
- (Foto Divulgação)
CRÍTICA - A PARTIDA: A morte é sempre
um tema caro ao cinema. Por mais que procuremos
entendê-la, quando ela nos surpreende com a sua
"visita" ficamos sem saber o que pensar. Afinal a
morte acaba com todas as certezas que supúnhamos
ter. O japonês "A Partida" (2008) questiona a morte
por outro ângulo, a do preparador de cadáveres.
Daigo (Masahiro Motoki) é um violoncelista que vendo
a orquestra onde tocava se desmanchar resolve voltar
para sua casa e arrumar outro emprego, recomeçar.
Eis que arruma um emprego de preparador de defuntos.
Quando a pessoa morre, seus familiares contratam o
serviços de Daigo e seu patrão, para deixar o morto
mais bonito e mas bem arrumado para a passagem de
mundos que a morte propicia.
É muito metafórica e simbólica a morte no filme de
Yojiro Takita. O diretor abocanhou o Oscar de melhor
filme estrangeiro, pois além da morte seu filme
traça paralelos com outros temas como a relação que
desenvolvemos com a comida, e porque não com as
pessoas mortas , o preconceito com quem trabalha
nesse ramo e a necessidade de todo mundo de rever a
própria vida, a partir da morte. Talvez essa seja a
maior função para os que ficam, rever padrões,
atitudes, escolhas.
O filme proporciona ao personagem esse mergulho nos
reais significados da vida e vai oferecendo ao
expectador uma sensação semelhante. Tudo com muita
sutileza e sensibilidade para que se tenha tempo de
digerir o ocorrido. Não é choroso o tratamento dado
ao tema, é emocional, portanto mais profundo. O
filme não deixa de ser uma experiência compartilhada
entre Daigo e o público.
Ao se conectar com a morte, Daigo enfrenta o
preconceito da mulher, fica só e se dedica a uma
profissão desprezada por muitos. As imagens que
Takita oferece de Daigo tocando seu violoncelo tendo
como fundo a paisagem japonesa reflete como a
própria arte do protagonista foi "contaminada" por
essa experiência.
A sensação é que a morte é algo belo e que merece
ser reverenciada. Afinal não há o que fazer quando
ela ocorre. E se a morte é uma passagem de mundos -
como defende algumas religiões - porque não preparar
o ente querido para que este chegue a outro lugar
melhor? A morte revela a matéria dispensável que é
nosso corpo.
O diretor não se furta de certa ironia nas cenas
onde questiona a relação que estabelecemos com os
animais que comemos nas refeições, criando uma
associação bizarra - e pertinente – de que também
somos como vermes, pronto a devorar um "corpo"
morto. Afinal, vacas, bois, galinhas, porcos,
frangos e aves em geral servem de alimentos -
nutritivos - para os vivos. No Japão onde se come
carne crua, imagina o impacto da metáfora? Que serve
também para qualquer apreciador de carne.
Por aqui, o corpo também é aparentemente arrumado,
maquiado e preparado para que no funeral esteja mais
apresentado. O que o filme mostra é uma tradição (o
que se supõe pelo filme) japonesa que parece tornar
mais bonita e menos impactante a morte, ao propor
aos familiares verem o corpo do ente querido
manipulado e preparado, supõe-se que o impacto
talvez seja menos doloroso.
Simbólico, por vezes engraçado, sensível e
emocionante, "A Partida" proporciona diferentes
“mergulhos” no conturbado universo da morte. Daigo
descobre em sua vida as pequenas mortes inevitáveis
no percurso de sua trajetória e a necessidade de
renascimento que nos é proporcionado a cada virada
de rumo na nossa vida. Oportunidades essas
geralmente desperdiçadas, dado a nossa sempre
ineficiente disposição a encarar a morte com olhos
generosos.
Ficha Técnica
Ano: Japão/2008
Direção: Yojiro Takita
atores: Masahiro Motoki , Tsutomu Yamazaki , Ryoko
Hirosue , Kazuko Yoshiyuki , Kimiko Yo
Duração: 130 min.
FILME:
Ótimo:
Bom:
Regular:
Crítico: Rodolfo Lima
- Jornalista, ator e crítico de cinema - e-mail:
dicaspravaler@yahoo.com.br
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