Falando sobre trilhas sonoras, é muito raro
assistirmos a um filme ruim que tenha uma boa
música. Isto fica óbvio ao lembrarmos de que a
música é criada a partir do filme, e não o
contrário. Assim, não é exatamente uma coincidência
percebermos que quase todos os grandes filmes da
história (novos ou antigos), têm também ótimas
trilhas sonoras. Aproveitando então a temática da
escrita, gostaria de abordar boas músicas a partir
dos criadores das estórias que vieram a inspirá-las.
Um dos fatos mais curiosos do meio roteirístico
hollywoodiano ocorreu em 1957. Era noite de entrega
do Oscar, e um homem assistia à transmissão com a
filha pequena. Chegando o momento do prêmio para
melhor roteiro original, o vencedor foi um tal e
ausente Robert Rich, pelo roteiro de “The Brave One”.
A menina, que assistia pela tv com o pai, gritou
contente: “Nós vencemos, pai! Vamos buscar o prêmio
amanhã! Vamos?”, ao que ele respondeu: “Infelizmente
não podemos, querida...”. Este homem era Dalton
Trumbo, um dos escritores mais premiados da história
do cinema.
Seu pseudônimo Robert Rich fora usado, na criação de
“The Brave One”, como forma de transpor o terrível
embargo que ele e outros roteiristas sofreram da
indústria cinematográfica quando o governo
norte-americano resolveu procurar comunistas dentro
do cinema. Após ser colocado numa lista negra, por
se recusar a delatar companheiros supostamente
comunistas, Dalton Trumbo passou a ser evitado pelos
estúdios, e depois de passar meses numa prisão, foi
solto para permanecer numa batalha infrutífera para
arrumar trabalho.
Assim como outros roteiristas da lista, Trumbo quase
chegou ao fundo do poço financeiramente, tendo ainda
esposa e filhos para sustentar. Para piorar, muitos
dos indivíduos que condenavam a atitude do governo,
passaram a vaiar e evitar Trumbo. O motivo era o
fato dele ter afirmado que não culpava nem repudiava
os companheiros que haviam cedido às pressões e
delatado outros artistas. Ele dizia compreender, já
que sofrera na pele a terrível tortura social e
econômica que todo aquele processo infligia. Tanto
que este assunto, delação e tortura, seria
recorrente em muitos dos trabalhos de Dalton Trumbo.
Como em “Papillon”, em que um prisioneiro é
castigado com a fome por se recusar a delatar; ou em
“Spartacus”, na cena em que uma multidão de homens
levanta-se, cada um dizendo-se ser Spartacus, para
também evitar as conseqüências de uma delação
forçada.
Ainda assim, aquele Oscar misterioso, ganho por “The
Brave One”, tornou-se um símbolo no meio
cinematográfico, e trouxe à tona uma profunda
reflexão sobre a tal Lista Negra. A partir daquele
prêmio, alguns profissionais dos grandes estúdios
passaram a desafiar os tratados de embargo propostos
pelo governo, e aos poucos Dalton Trumbo e outros
roteiristas puderam voltar a trabalhar.
Um dos primeiros filmes escritos por Trumbo após sua
volta oficial ao cinema foi “Exodus”. Este filme
gerou uma trilha sonora cujo tema principal é ainda
hoje aclamado como um dos mais belos já feitos para
a Sétima Arte:
- Ernest Gold – “Exodus”:
www.youtube.com/watch?v=jsmZeo1Tc9A&feature=related
Crítico: Gustavo Barcamor - Escritor e
Músico -
barcamor@yahoo.com.br. Blog:
www.barcamor.blogspot.com
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