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Crítica Especial do Filme "A CRIANÇA" 
 por Shirlei Ximenes - Jornalista e Crítica de Cinema
e-mail: sximenes@gmail.com   
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A CRIANÇA - (Celluloid Dreams)

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Em nome do filho

CRÍTICA: A CRIANÇA - O sexto longa-metragem da carreira de Luc e Jean-Pierre Dardenne confirma, antes de qualquer outra coisa, a vocação humanista presente no cinema dos irmãos. A qualidade desse mais recente trabalho da dupla belga não passou despercebida pelo júri do Festival de Cannes, que conferiu-lhes a Palma de Ouro no ano passado, a segunda no currículo de ambos desde “Rosetta”, em 1999. Em “A Criança” (2005), os cineastas traduzem com precisão questões urgentes como o viver errante de uma juventude sem esperança e marginalizada, além da perda da inocência. Ainda retratam o capitalismo exacerbado que transforma tudo em mercadoria e, acima de tudo, a moral ou a falta dela, mesmo sem cair na pieguice do discurso moralizante.

No filme, a complexidade dos personagens e de suas atitudes movimenta a narrativa. Sonia (Déborah François) acaba de ter um filho e procura voltar para o seu apartamento, quando descobre que o mesmo está ocupado. Ao sair com o bebê pelas ruas, logo se depara com o namorado, o responsável por alugar a casa. Finalmente, a lente dos Dardenne encontra o principal elemento da obra: Bruno (Jérémie Rénier), jovem delinqüente e pai da criança recém-nascida em questão. Enquanto este segue tranqüilamente com a prática de pequenos roubos, sempre acompanhado de alguns moleques parceiros, Sonia sobrevive como pode através de um seguro pago pelo governo.

Bruno tem 20 anos e Sonia 18. Ele não compreende a importância do momento na vida do casal e vende o filho na primeira oportunidade. Diante do desespero da namorada, explica que os dois “poderiam fazer um outro” a qualquer momento. Sonia entra em colapso e o denuncia à polícia. Não resta outra alternativa ao rapaz senão recuperar o bebê. E assim o faz para evitar a prisão.

A câmera ágil e estável dos irmãos Dardenne nos “cola” aos personagens, cercando-os intimamente para não perder o mínimo movimento, gesto ou expressão – a cena que mostra o rosto do pai que aguarda o filho ser levado por gângsteres, por exemplo, é emblemática. Contudo, ela não consegue penetrá-los, saber o que pensam ou quais serão seus próximos atos, como se assim justificasse a inexistência de um “interior” neles. Além disso, os cineastas também exploram o uso de algumas seqüências abertas e o som é ambiente como na vida real, tão próximo à realidade quanto o tilintar irritante do celular do protagonista. O trabalho dos atores principais – ambos em início de carreira - não poderia ser mais adequado. O resultado na tela é a perfeita química entre os namorados, facilmente observada em significativos momentos de brincadeiras infantis ou quando os dois se ocupam da necessidade de assumir uma posição adulta no mundo. Todo o elenco foi submetido a longos períodos de ensaio, fator que desmistifica o ar documental do longa, mesmo com o passado de documentaristas de seus realizadores.

Certamente, a criança do título não é o recém-nascido, pois este serve apenas para mover as ações dos demais personagens. Nas mãos do pai, o pequeno Jimmy (interpretado por mais de 20 bebês diferentes e um boneco) vale como uma mercadoria a ser trocada por dinheiro, é tão objeto quanto o carrinho de bebê ou a motocicleta que ele carrega para um lado e outro. Bruno é irresponsável e não tem amor pelo filho, só demonstra interesse em satisfazer suas necessidades imediatas. Vítima ou vilão? Os irmãos Dardenne não julgam a moral do rapaz. Ele já pagará por seus erros e inconseqüência aqui mesmo na terra. Toda a história se passa na Bélgica e, mesmo assim, o tema impressiona por sua universalidade; sugere que, muitas vezes, a necessidade de se valer de práticas ilegais também pode ser um meio de sobrevivência. Impossível não lembrar de “Pickpocket” (1959), de Robert Bresson, no catártico momento final de “A Criança”. Há arrependimento e, apesar de tudo, um ainda precisa do outro. Por enquanto, essa é a única esperança para os dois jovens.

Título Original: L’Enfant
Gênero: Drama
Duração: 95 min
Ano: 2005 (Bélgica/França)
Direção: Luc e Jean-Pierre Dardenne
Roteiro: Luc e Jean-Pierre Dardenne
Distribuição: Celluloid Dreams

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Cena do Filme A CRIANÇA (Foto Divulgação)

Filme:

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Crítica: Shirlei Ximenes - Jornalista e Crítica de Cinema - sximenes@gmail.com     

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