CRÍTICA - OS 12 TRABALHOS - Ao término
do filme Os 12 Trabalhos de Ricardo Elias, me
questionei por que o filme havia sido tão valorizado
pela mídia e a crítica em geral. Ganhador de três
prêmios: dois como melhor filme, em festivais
internacionais (Havana e San Sebastian) e um de
melhor ator no Festival do Rio 2006, para Sidney
Santiago, prêmio que dividiu com o ator Selton
Mello. O filme sobrevive na primeira semana de
abril, em quatro sessões, apenas no circuito cult de
São Paulo, que abrange o Frei Caneca, o Reserva
Cultural e o HSBC Belas Artes. O público alvo do
filme que seria os moradores da periferia,
dificilmente se deslocará para ver tal filme.
A história é muito simples. Garoto recém saído da
FEBEM, recebe ajuda do primo para se colocar no
mercado de trabalho. A oportunidade é uma vaga de
motoboy. Tal “prêmio”, só será possível se o garoto
vencer os dozes trabalhos que terá no dia. Prefiro
trocar a palavra trabalho por obstáculos. Claro que
se supõe que o jovem Herácles irá passar por uma
serie de dificuldades para conseguir seu objetivo.
Não há surpresas. O filme se desenvolve em seus 90
minutos da mesma forma que começou - morno e sem
graça. - A trajetória do personagem comum que sonha
com uma posição social que o dignifique, tem sua
graça quando o protagonista “adivinha” o futuro das
pessoas que cruzam seu caminho durante o dia. A
sutileza não é suficiente para transformar o
personagem numa pessoa carismática. Muito pelo
contrário, a composição de Santiago para o
personagem o transforma numa pessoa carrancuda e
arredia. Poderia ser diferente para quem passou os
últimos dias encarcerados?
Herácles é visto como um coitadinho, morador da
periferia, com um sub - emprego, sendo explorado
pela classe média, com um passado que o condene e
além de tudo ser negro. A forma como a história é
narrada, costurando cenas de motociclistas, e o
dia-a-dia dos motoboys, não acrescenta em nada e o
filme é facilmente esquecido.
A referência ao filme Os incompreendidos de
François Truffant só fez ressaltar a tendência do
filme em enaltecer as pessoas comuns, sem
perspectiva e transformá-la numa coitada
incompreendida. Só que o questionamento do filme de
Truffant vai além do mero “não se achar no mundo”. A
falta de singularidades, defeitos e contradições são
o que prejudica o impacto do filme perante seus
espectadores. Herácles, apesar de tudo é um
“certinho” que caiu de gaiato numa enroscada e pagou
caro por isso.
O filme foi ovacionado pelo fato do cineasta ter
trazido á tona, as condições precárias de tais
profissionais. Então se for assim deveriam filmar
histórias de lixeiros, coveiros, varredores de ruas,
e outros profissionais menosprezados pela burguesia.
Não é a toa que o filme se encontre apenas na região
“nobre” da cidade.
Prefira De passagem (2003) - o primeiro filme do
diretor - onde as injustiças sociais cravam
verdadeiras buracos nas pessoas e segregam suas
individualidades alicerçadas por medos e
preconceitos.
Os 12 trabalhos talvez sirva para você pensar
duas vezes antes de xingar um motoqueiro na rua, ou
pensar em parar para socorrer caso você atropele um.
Nada além disso.
Título Original: Os 12 Trabalhos
Gênero: Drama Duração: 90 min. Ano: Brasil - 2007 Direção e Roteiro: Ricardo Elias